Os políticos e os partidos usam as redes sociais da Internet como «alavanca» para chegarem aos meios de comunicação tradicionais, que são ainda os mais influentes, considera um investigador da Universidade da Beira Interior.
A decorrer a pré-campanha para as eleições legislativas de 5 de Junho, João Canavilhas nota que através do Twitter e do Facebook os partidos «estão a falar efectivamente com os eleitores, mas também estão a falar com os meios tradicionais, que são aqueles que efectivamente têm grande impacto junto das pessoas».
Usar a internet é por agora um «fenómeno de moda», sobretudo depois de ter sido passada a «ideia» de que a vitória de Barack Obama, nos Estados Unidos, foi conseguida através das redes sociais.
«Mas é impossível vender um mau produto ainda que a campanha seja boa», diz.
O impacto da manifestação ‘Geração à Rasca’, a 12 de Março, convocada pelo Facebook, é outro exemplo para a eventual maior aposta na Internet na preparação da ida às urnas.
O investigador refere que para cada momento da campanha pode ser escolhida uma rede social específica: os blogues são vistos como diários, enquanto o Twitter é um «momentário».
Em momentos «mortos» entre acções de campanha, o Twitter, onde são permitidas mensagens com um máximo de 140 caracteres, devia ser um «instrumento pessoal» para transmitir «sensações pessoais», acrescenta.
O professor refere a «vantagem» para os partidos de fazer chegar a sua mensagem na íntegra sem mediação dos órgãos de comunicação social.
Enumerando a má utilização das redes, o especialista critica a falta de interactividade, que comprovou na sua investigação sobre as eleições europeias de 2009: não há respostas às perguntas directamente colocadas.
Outra prática errada, afirma, será o uso das redes não pelo próprio candidato, mas por «algum assessor».
Os partidos de menor dimensão conseguem ter presença semelhante à dos maiores, na internet, garante ainda o professor, ressalvando que igual repercussão nos meios tradicionais para «já não está a acontecer».
Rui Novais, da Universidade do Porto, diz que os partidos pequenos ou candidatos «desconhecidos ou mal posicionados nas sondagens» tendem a recorrer à internet e a ser «mais arrojados e inovadores na utilização dos novos media».
O académico não advoga que as legislativas de 2011 serão «as eleições das redes sociais».
«Prefiro a designação de eleições com as redes sociais», diz o também investigador, acrescentando que o cenário actual poderia potenciar o recurso por parte dos cidadãos.
Em épocas de crise «tendem a documentar-se mais e a socorrer-se de fontes alternativas».
«No entanto, o mais provável é que esta janela de oportunidade não tenha correspondência nas estratégias partidárias de utilização das redes sociais», defende.
Novais refere que a suposta gratuitidade ou custo reduzido das redes sociais é às vezes um argumento ilusório, já que ao serem usadas de forma profissional é necessária uma «equipa especializada a tempo inteiro, o que não é propriamente acessível».
«O cenário de contenção orçamental ao invés de potenciar a aposta nas redes sociais pode ironicamente resultar numa campanha digital 'low cost' indesejável em termos da afirmação e credibilização dos novos media», conclui.
fonte:Lusa / SOL