Líder do PSD admitiu ontem vir a financiar um “plano de emergência social” para os mais vulneráveis com uma quota fixa no escalão mais elevado de IRS.
Pedro Passos Coelho fez ontem um retrato duro de Portugal, "um país único em descalabro económico e social", que "acumulou desequilíbrios como nenhum outro". "Sobreendividamento público, uma taxa de poupança muito baixa, um desemprego historicamente alto" que "é bem mais grave do que se supunha", elencou.
Para o líder do PSD que ontem apresentou, na conferência "Governar Portugal" do Diário Económico, a sua terapia para sairmos da crise, é preciso "mudar de regime económico para uma economia mais aberta", acabando "com o peso excessivo do Estado", "despartidarizando a Administração" e "desgovernamentalizando o Estado", porque "a sociedade não pertence ao Estado".
Passos Coelho admitiu, preto no branco, que a sua estratégia para a campanha eleitoral, que arranca no domingo e terminará com as eleições de 5 de Junho, passa por acabar com "um vício um pouco salazarento de que tudo o que é público é bom e o que é privado gera desconfiança" e, nem os conselhos que tem recebido para não contar "toda a verdade", têm sido bem acolhidos. "Fui acusado de trazer demasiados assuntos para discussão quando as pessoas dependem demasiado do Estado", mas "não quero ganhar eleições a dizer o que não vou fazer".
O líder do PSD continua a temperar o discurso e as políticas abertamente mais liberais que defende, com um Estado "mais enxuto" e mais focado nas áreas de soberania, onde os poderes da regulação são reforçados e existe uma "grande preocupação social".
Se, por um lado, pede uma maior fiscalização dos beneficiários de apoios sociais porque, por exemplo, "há um número substancial de pessoas que beneficiam do Rendimento Social e Inserção desde que ele foi criado" e é "preciso garantir que podem ganhar autonomia", por outro, diz que o país precisa de lançar um "plano de emergência social" que reforce "o contributo de IPSS, misericórdias e instituições de solidariedade social para apoiar os mais desprotegidos e mais vulneráveis". Como? Retirando a quem mais tem e distribuindo pelos mais necessitados.
Passos Coelho abriu mesmo a porta para "a possibilidade de se criar uma quota fixa no escalão mais elevado do IRS" para financiar este plano de emergência social de forma a acudir aos sectores mais afectados pela crise que paira sobre o país desde 2008 e que se intensificará nos próximos dois anos em que a economia, tudo indica, continuará em recessão. Mas, insiste o líder do PSD, como os recursos são escassos "não se pode continuar o financiamento a fundo perdido para as pessoas mais desfavorecidas". No seu programa eleitoral está previsto que os beneficiários de apoios sociais do Estado podem retribuir em trabalho voluntário o dinheiro público que recebem mensalmente.
Numa altura em que as sondagens apontam para um empate técnico entre os dois principais partidos, Passos Coelho recusou comentar os estudos de opinião e insistiu na ideia que o leva a recusar governar com José Sócrates: quem nos trouxe até ao terceiro resgate financeiro da história da democracia não tem capacidade para nos recolocar na senda do crescimento económico. "Todos os países foram afectados pela crise de 2007" mas, "em 2009, praticamente todos estão a sair da recessão".
A 5 de Junho, para o líder da oposição a escolha é simples. "Seguimos o mesmo caminho e a recessão vai-se prolongar por, pelo menos, oito anos" ou "temos capacidade de nos organizarmos e cumprimos [o memorando da ‘troika'], mas "não podemos fazer mais malabarismo".
Ao longo de uma hora e perante uma audiência com mais de 300 empresários e gestores, Passos Coelho nunca falou em "Sócrates" mas foi claro na avaliação do actual primeiro-ministro: "Apostar em equipas que estão sempre a mascarar a realidade é um ilusionismo que não gera confiança".
Reduzir TSU já em 2012
Passos Coelho admitiu ontem que "gostaria de reduzir os quatro pontos percentuais da Taxa Social Única já este ano mas vai depender da execução orçamental dos primeiros seis meses". Porquê? "Suponha que há mais surpresas, suponha que a situação das empresas públicas é pior do que se imagina...". Passos assumiu que o problema de financiamento coloca-se aos primeiros quatro pontos de redução da TSU porque "a partir daí ela será auto-sustentada".
Trabalhar mais recompensa
O líder do PSD recusa a ideia defendida pela chanceler Angela Merkel de que Portugal precisa de mexer na actual idade de reforma. Ainda assim, Passos apostará, caso seja eleito primeiro-ministro, em "políticas de envelhecimento activo" em que "as pessoas com mais de 40 anos de contribuições que queiram continuar a trabalhar mais tempo" terão "um nível de contribuições [suas e das próprias empresas] reduzido. Para Passos é preciso compatibilizar o actual regime de descontos que é público, dando liberdade de escolha aos beneficiários.
Auditar novas oportunidades
É arriscado questionar o programa Novas Oportunidades quando por lá passaram mais de 500 mil pessoas? A pergunta retórica foi colocada pelo próprio Passos Coelho que assumiu que "é preciso mudar a forma de fazer política em Portugal". Daí, insiste, "aquele diploma foi bom para a auto-estima" mas é determinante "que haja uma auditoria que prove a empregabilidade" de quem regressou e terminou os estudos através do Novas Oportunidades.
Programa "sem embustes"
O líder da oposição assumiu ontem que tem sido aconselhado a não abrir tanto o jogo sobre o que pretende fazer caso seja eleito primeiro-ministro. "Fui acusado de trazer demasiados assuntos para discussão quando as pessoas dependem demasiado do Estado". As contas finais serão feitas a 5 de Junho e Passos Coelho assume "pessoalmente o risco da estratégia". O líder do PSD voltou a repetir a ideia que tem marcado os seus discursos: só com toda a verdade o país superará a crise porque "não podemos fazer mais malabarismos".
fonte:http://economico.sapo.pt/